sábado, 12 de novembro de 2011

Coluna Semanal Aprendendo a empreender




Aprendendo a empreender

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Este foi um mês de prêmios para mim. O meu curso de empreendedorismo da graduação do Insper ganhou o Prêmio Educação Empreendedora concedido pelo Instituto Empreender Endeavor durante a Rodada de Educação Empreendedora que reuniu professores de empreendedorismo de todo o país no início de Outubro.

Uma semana depois, fui agraciado com o Excellence in Entrepreneurship Education and Pedagogy Innovation Award por diretores de Centros de Empreendedorismo do Global Consortium of Entrepreneurship Centers, no encontro anual da entidade, que reúne mais de 200 centros de empreendedorismo de universidades dos EUA e no mundo, realizado na University of Southern California em Los Angeles, EUA.

Estes dois prêmios, de duas grandes instituições nacionais e internacionais, representam para mim o reconhecimento de uma jornada de 5 anos no desenvolvimento de um curso voltado para jovens que vai além dos tradicionais cursos teóricos e baseados em elaboração de planos de negócios que normalmente vemos normalmente nas universidades. O curso foi reconhecido pela forma que escolhi ensinar competências empreendedoras. Mais do que falar sobre o perfil empreendedor de assumir riscos, identificar oportunidades, ter iniciativa e pró-atividade, aprender com os erros, formar redes de relacionamento ou ser determinado e apaixonado, criei condições para que o aluno praticasse isso tudo e experimentasse a sensação, ainda que simulada, de empreender.

Com este duplo respaldo, resolvi tomar como tema hoje a minha visão de como se desenvolve as competências empreendedoras que muitos julgam serem inatas e, embora estudos indiquem que pode-se aprender a empreender, são pouquíssimos os professores que conheço que já conseguiram desenvolver cursos que despertam estas características empreendedoras e vão além dos modelos tradicionais de ensino. Na minha visão, cada aspecto comportamental relacionado com empreendedorismo pode ser condicionado, vivenciado, treinado e incorporado ao jeito de ser de cada um. A seguir, algumas dicas para qualquer um aplicar no seu desenvolvimento pessoal.

Em primeiro lugar, qualquer um que quer aprender a empreender precisa estar em contato com empreendedores. Não importa aqui se são grandes empreendedores à frente de negócios bem sucedidos e estáveis. Pode até ser um dono de uma pequena mercearia ou posto de gasolina, o que importa é poder ficar ao lado de quem está vivenciando esta aventura, que já tenha passado por uma grande diversidade de experiências, e preferencialmente, que tenha vivido alguma grande frustração e fracasso e tenha aprendido com isso.

Escolha um mentor que tenha boa vontade e paciência para compartilhar. Escolha alguém que possa se reunir com você por pelo menos uma hora por semana e deixá-lo acompanhar seu dia-a-dia na empresa. Procure conhecer sua história, suas motivações por empreender, sua ligação com o negócio, seus pontos fortes e suas fraquezas. Você pode ter mais de um mentor, quanto mais, dentro de sua disponibilidade, melhor. Diversidade aqui é importante para aprender uma coisa diferente de cada um.

Leia bastante sobre empreendedores, através da biografia de grandes nomes da história. De Barão de Mauá a Steve Jobs, de Marco Polo a Abílio Diniz, suas histórias são inspiradoras, acendem nossa paixão por empreender, retratam nossa visão do que queremos ser no futuro, alimentam nossa vontade de começar a trilhar nossa própria jornada empreendedora, nos ajuda a criar nossa própria identidade.

Assista filmes. As características empreendedoras podem ser aprendidas com exemplos ilustrados em filmes ou cenas de filmes. Veja como aqueles que pensam diferente são discriminados em ‘Vida de Inseto’. Veja como empreendedores são determinados e persistentes em ‘O Aviador’. Saiba como escolher um bom sócio e parceiro em ‘A rede social’. Descubra como influenciar pessoas e promover mudanças em ‘Bagdá Café’. Aprenda a diferença entre destemidos e corajosos em ‘Coração Valente’. Podemos aprender muitas coisas com os filmes se prestarmos atenção nas mensagens que alguns trazem.

Mude sua rotina. Aliás, assuma a rotina de quebrar a rotina o tempo todo. Mude o trajeto de casa ao trabalho, experimente comidas diferentes, explore lugares novos, conheça pessoas diferentes de você, procure detalhes no seu ambiente diário que nunca tinha percebido antes. Procure enxergar o mundo sob óticas diferentes, novos ângulos, novas perspectivas. Desta forma você desenvolve sua capacidade criativa que te ajuda a identificar oportunidades onde ninguém viu. Quanto maior a diversidade de vivências que tivermos, maior nossa capacidade de conectar pontos, fazer ligações, estabelecer relações de onde surgem boas oportunidades de negócio.

Questione o tempo todo o ‘status quo’, as regras, as limitações e restrições. Ao invés de perguntar ‘por quê?’, pergunte ‘porque não?’. Quebre algumas regras e veja as conseqüências. Analise que regras impedem as coisas de serem melhores, que normas não têm razão de existir. Procure descobrir como o mundo poderia ser melhor se algumas leis não existissem. Estude formas de gerar valor a partir de novos pressupostos que não foram estabelecidos antes. Duvide, critique, desacredite.

Esta postura está relacionada com a capacidade de assumir riscos. No começo, tente assumir riscos de baixas conseqüências, como tomar banho com as luzes apagadas. Aos poucos vá assumindo riscos mais ousados, com diferentes graus de controle. Vai haver um certo desconforto em não ter pleno controle sobre as coisas. Experimente, por exemplo, sair num fim de semana para um destino qualquer, sem planejamento prévio e esteja aberto para as descobertas e surpresas que encontrar no caminho. Também esteja aberto para a frustração de não ter chegado a lugar nenhum que vale a pena. Também esta frustração faz parte do aprendizado. Tentativas de fazer algo diferente podem levar ao insucesso. Tolerar o erro é um sinal de maturidade e abre espaço para o aprendizado. Enfrente o medo de errar e supere a pressão interna e social de valorizar somente o acerto.

Outra coisa que o empreendedor precisa aprender é construir uma boa e consistente rede de relacionamentos. Procure conhecer pessoas novas e diferentes de você. Aprenda a interpelar desconhecidos em rodas sociais, engatar uma conversa e fazer perguntas para conhecer melhor a pessoa. Quanto mais ampla e variada a sua rede de relacionamentos, maior a chance de aprender com eles e saber com quem contar quando precisar de algo específico. Pessoas com formas diferentes de pensar trazem novas perspectivas, novos pontos de vista que ajudam o empreendedor a vislumbrar novos caminhos e melhorar o seu processo decisório.

Existem várias coisas ainda que você pode fazer para explorar seu lado empreendedor. De uma forma geral, entenda que não se aprende a empreender no banco da escola, aprende-se fazendo, passando por experiências, vivenciando situações. E você certamente passou por várias experiências destas ao longo de sua vida, desde criança. A questão é saber o que você de fato aprendeu, o que mudou em você a cada episódio de aprendizado. Nunca é tarde demais para mudar... e empreender!


Marcos Hashimoto é professor de Empreendedorismo do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa onde também coordena o CEMP (Centro de Empreendedorismo), Consultor e Palestrante, doutor em Administração de Empresas pela EAESP/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), autor do livro Lições de Empreendedorismo e do software SP Plan de planos de negócios. Seu site pessoal é www.marcoshashimoto.com. Para conhecer melhor o trabalho do CEMP

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